Já nos primeiros meses do inicio da pandemia do COVID-19 ficou claro que o mercado doméstico iria liderar a recuperação do setor aéreo, enquanto o mercado internacional teria uma recuperação bem mais lenta. E foi isso mesmo que aconteceu.
As férias de verão de 2022 no hemisfério norte finalmente atestaram o momento de grande recuperação das viagens aéreas internacionais em todo o mundo. Porém a falta de trabalhadores levou a um novo "caos aéreo" com voos cancelados, longas filas, bagagens extraviadas e viajantes irritados. Durante a crise causa pela pandemia, muitos funcionários foram demitidos e agora as empresas do setor estão encontrando dificuldade para recontratar na mesma velocidade em que a demanda está se recuperando.

No Brasil, enquanto o volume de passageiros nos voos domésticos já praticamente recuperou 100% dos período pré pandemia, no mercado internacional ainda está cerca 30% menor. Apesar disso é possível observar uma forte recuperação da demanda internacional desde maio de 2021.
Depois de tanto tempo sem poder realizar viagens de longa distância, as companhias aéreas esperam a liberação de uma grande demanda reprimida.
Qual é o destino internacional preferido dos brasileiros?
Antes de responder essa pergunta, temos que entender o que significa volume de passageiros transportados. A medida mais utilizada na indústria da aviação é o Revenue Passenger Kilometres (Passageiros‐Quilômetros Pagos Transportados), mais conhecida pela sigla RPK. Essa medida é calculada pela multiplicação do número de passageiros pagantes a bordo pela distância percorrida. Dessa forma uma aeronave transportando a mesma quantidade de passageiros pagantes irá gerar mais RPK quanto mais longo for o voo.
Voltando a nossa pergunta, se formos considerar o RPK Lisboa é o destino mais procurado. Porém se formos considerar apenas a quantidade de passageiros pagantes transportados, o destino mais procurado é Buenos Aires.
Ranking dos destinos considerando
como origem os aeroportos do Brasil em 2019 |
Por RPK |
Por passageiros pagos transportados |
- Lisboa
- Miami
- Paris
- Madri
- Buenos Aires
|
- Buenos Aires
- Santiago
- Lisboa
- Miami
- Panamá
|
Além de ser um dos destinos mais procurados pelos brasileiros e também utilizado como "porta de entrada" para outros destinos na Europa, Lisboa é a cidade na Europa com maior números de voos para o Brasil. Em 2019 apenas a
Tap oferecia 86 voos semanais saindo de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Belém e Porto Alegre. Não é à toa que desde 2006 a
Tap é a líder nos voos entre o Brasil e a Europa. No entanto, nos últimos anos, sua liderança é ameaçada pela
Latam e pelo grupo
Air France-KLM. Aliás Paris também é um dos destinos mais procurados pelos brasileiros, aparecendo em terceiro lugar na lista de 2019 por RPK. A capital da França foi inclusive o número um da lista entre 2003 e 2010, quando foi ultrapassada por Miami e Lisboa.
Com relação ao número de passageiros pagos transportados, Buenos Aires é a líder incontestável, sendo a cidade preferida por todos os anos desde 2000, com uma larga vantagem em relação ao segundo colocado, que nos últimos anos variou entre Miami, Lisboa e Paris. Santiago alcançou o segundo lugar apenas em 2017, depois de um aumento expressivo no número de passageiros desde 2010.
A cidade do Panamá chama a atenção como quinto lugar em 2019. Isso comprova o crescimento avassalador da
Copa nos últimos anos. A companhia aérea panamenha iniciou voos para o Brasil em 2000 com míseros três voos por semana. Em 2019 a
Copa oferecia 84 voos semanais saindo de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus e Porto Alegre, sendo a vice líder nos voos entre o Brasil e a América Latina desde 2011. O Panamá se tornou a "porta de entrada" preferida dos brasileiros que querem ir para o México, EUA, Canadá e outros destinos na América Latina por preços mais convidativos do que os voos diretos.
Ranking dos destinos considerando
como origem os aeroportos do Brasil
Por passageiros
transportados |
1973
- Buenos Aires
- Nova York
- Lisboa
- Paris
- Roma
|
1980
- Buenos Aires
- Miami
- Lisboa
- Montevidéu
- Paris
|
1990
- Buenos Aires
- Miami
- Lisboa
- Madri
- Paris
|
2000
- Buenos Aires
- Miami
- Madri
- Paris
- Lisboa
|
2005
- Buenos Aires
- Miami
- Lisboa
- Paris
- Frankfurt
|
2010
- Buenos Aires
- Lisboa
- Miami
- Paris
- Santiago
|
2015
- Buenos Aires
- Miami
- Lisboa
- Santiago
- Paris
|
Voltando no tempo...
Apesar do primeiro voo que ligou o Brasil até os EUA passar por Miami, o destino final era Nova York. A
NYRBA (New York - Rio de Janeiro - Buenos Aires) foi criada exatamente com o propósito de realizar uma conexão aérea entre a América do Norte e América do Sul em 1929. Hoje a rota mais movimentada entre os EUA e a América do Sul é de longe entre Miami e São Paulo, mas naquela época Nova York e Buenos Aires eram as duas mais importantes da América do Norte e do Sul, respectivamente. A primeira ligação direta entre o Brasil e Nova York foi realizado pela
Varig em 1960, graças aos novos motores da época Rolls-Royce Conway MK-508-40, que permitiram que a companhia aérea brasileira realizasse o voo mais longo sem escalas do mundo até então. A rota Rio - Nova York permaneceu como a principal rota da
Varig para os EUA até o final dos anos 70, quando a rota Rio - Miami ultrapassou Nova York. Em 1973, por exemplo, as companhias brasileiras e estrangeiras ofereciam 28 voos semanais entre o Brasil e Nova York, contra 21 entre o Brasil e Miami. Em 1980 eram 21 voos semanais entre o Brasil e Nova York, contra 33 entre o Brasil e Miami. Em 1996 Miami já estava consolidado como o principal destino nos EUA, com 92 voos semanais contra 52 para Nova York.
Um destino que ameaçava ultrapassar Paris lá pelos anos 70 era Roma. Porém quando a
Varig inaugurou voos para Milão, em 1980, parte dos passageiros de Roma migraram para a nova rota. Foi Madri o destino que conseguiu ultrapassar a capital francesa nos anos 1990 e 2000, impulsionado pelas companhias estrangeiras da América do Sul que usavam a capital da Espanha como base para seus voos na Europa e que sempre faziam escala no
Galeão ou em
Guarulhos. Alguns exemplos são a
Aerolineas Argentinas nas rotas Buenos Aires - São Paulo ou Rio de Janeiro - Madri - Londres, Paris - Frankfurt e Roma, e
Lan Chile na rota Santiago - Rio de Janeiro - Madri - Paris - Frankfurt.
Frankfurt apareceu em quinto lugar em 2005, justamente o ano de maior ascensão desse destino, numa combinação de fatores como a
Varig em crise financeira e com uma forte parceria com a
Lufthansa, fazendo de Frankfurt um forte ponto de distribuição de passageiros para outros destinos na Europa. Em 2007, após o fim da
Varig, Frankfurt despencou da quinta para a oitava posição.
Lisboa foi outro destino que sofreu com a crise da
Varig. Em 2000 a capital de Portugal caiu de terceiro para quinto justamente no momento em que a
Varig encolhia constantemente sua malha internacional e cortou os voos que ligavam Salvador, Recife e Fortaleza diretamente com Lisboa, além de cancelar todos os voos para Porto. A reação de Lisboa veio com a ida Fernando Pinto para a
Tap, que logo tratou de aumentar o número de voos para o Brasil e inaugurou voos diretos de Lisboa para Salvador, Recife, Natal e Fortaleza. De 2005 para 2006 a
Tap ultrapassou a
Lufthansa e a
Air France e se tornou a companhia estrangeira que mais transportou passageiros entre o Brasil e a Europa.
A cidade mais nova na lista é Santiago e sua ascensão tem ligação com a criação da
Latam. A união da chilena
Lan e da brasileira
Tam foi iniciada em agosto de 2010 e oficializada em junho de 2012. Desde então os voos entre o Brasil e o Chile aumentaram consideravelmente. Entre 2010 e 2019 o número de passageiros mais que dobrou, apresentando um crescimento de 165%. Nesse período Santiago ultrapassou Paris (em 2012), Lisboa (em 2016) e Miami (em 2017), se tornado o segundo destino mais procurado pelos brasileiros, segundo o número de passageiros pagos transportados tendo como origem os aeroportos brasileiros.
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