Busca interna

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Aeronaves comerciais que redefiniram o transporte aéreo

Qual foi a aeronave comercial mais importante de todos os tempos? Qual foi a mais revolucionária? Qual foi a mais inovadora? Desde o inicio da aviação comercial, algumas aeronaves desempenharam um papel fundamental em transformar a maneira como viajamos. Com avanços em design, eficiência e conforto, essas aeronaves não só atenderam às demandas da indústria, mas também redefiniram os padrões da experiência de voar. Vamos explorar algumas das aeronaves comerciais que tiveram um papel fundamental na evolução da aviação comercial.


1907: O monoplano Demoiselle
No inicio da aviação comercial era mais comum encontrar aviões biplanos (com duas asas) do que monoplanos (com uma asa). Os biplanos ofereciam uma estrutura robusta o suficiente para suportassem as forças de voo sem se deformar, mas também leve o suficiente para permitir que a aeronave decolasse. Os motores inicialmente tinham menos potência e as duas asas produzam mais sustentação a baixas velocidades. No entanto, conforme os motores melhoravam e a velocidade aumentava, as asas do biplano criavam um arrasto na aeronave. 
Em 1907 Santos Dumont foi o primeiro no mundo a construir um avião monoplano, o Demoiselle. Mesmo assim os biplanos continuaram sendo a escolha de aeronave mais popular até a década de 1930. Com os avanços tecnológicos os monoplanos se tornaram viáveis para aeronaves maiores e então se tornaram o padrão na aviação comercial. Os monoplanos podiam voar mais rápido e eram mais eficientes no consumo de combustível. 


1919: O avião de metal Junkers F-13
Os primeiros aviões eram feitos com os materiais que estavam disponíveis na época como madeira e tecido. No entanto mudanças de temperatura ou a absorção de água podiam afetar a madeira. Já o tecido podia apodrecer ou perder a tensão quando exposto a ambientes úmidos. Essas desvantagens tornaram evidente a necessidade de um material mais resistente, durável e eficiente. 
A introdução do alumínio, mais leve que o aço e ainda assim muito resistente, abriu caminho para a utilização desse material nas aeronaves. Muitas fabricantes de aeronaves comerciais em todo o mundo começaram a pesquisar e desenvolver aeronaves usando cada vez mais metal. Porém a primeira aeronave totalmente feita de metal foi produzida na Alemanha. Após a Primeira Guerra Mundial, o país estava devastado economicamente e enfrentava restrições impostas pelo Tratado de Versalhes, que proibia a produção de aeronaves militares. A proibição forçou os engenheiros alemães a se concentrarem na aviação civil. Desenvolvido em 1919, o Junkers F-13 foi um marco na aviação comercial como o primeiro avião totalmente metálico. O metal era muito mais resistente ao desgaste, o que aumentava a vida útil das aeronaves. Além disso, as superfícies metálicas eram mais lisas, o que reduzia o arrasto aerodinâmico e melhorava a eficiência do voo. O metal também possibilitou, em projetos futuros, a pressurização de cabines, essencial para voos em maiores altitudes e mais confortáveis.
No Brasil o Junkers F-13 foi operado pelas duas primeiras companhias aéreas brasileiras Varig e Syndicato Condor.


1935: O lendário DC-3
Na lista de aeronaves mais famosas ou mais importantes da aviação comercial, o Douglas DC-3 é presença obrigatória. O DC-3 não trouxe nenhuma revolução tecnológica significativa, mas trouxe uma coisa muito mais importante. O DC-3 foi a primeira aeronave capaz de operar de maneira lucrativa com o transporte de passageiros, sem depender de subsídios do governo e isso foi um divisor de águas para a aviação comercial. A aeronave apresentava custos operacionais baixos, menor consumo de combustível, manutenção mais simples e era capaz de operar em praticamente qualquer tipo de pista, mesmo em locais sem nenhuma infraestrutura. Mais de 10 mil DC-3, e suas variantes, foram produzidas. Nos anos 1940 e 1950 era difícil encontrar uma companhia aérea que não operasse o DC-3. Mesmo após o lançamento de aeronaves mais avançadas tecnologicamente, o DC-3 permaneceu em operação. Após 50 anos do fim da produção, ainda era possível ver essas aeronaves voando pelo céu.
No Brasil o DC-3 foi operado por praticamente todas as companhias aéreas brasileiras durantes as década de 1940 e 1950, principalmente. Assim como no resto do mundo, o DC-3 promoveu uma revolução na aviação comercial brasileira, que viu o surgimento de mais de 20 companhias aéreas, o aumento do número de cidades brasileiras atendidas pela aviação de 70 para mais de 200 e o aumento da frota de aeronaves comerciais brasileiras de 60 para mais de 350 aeronaves.


1943: O intercontinental Lockheed Constellation
Antes do Constellation as viagens aéreas de longa distância eram mais lentas, complexas e envolviam várias escalas para reabastecimento. Grandes hidroaviões como o Boeing 314 eram a escolha principal para voos transoceânicos, pois podiam pousar na água, eliminando a necessidade de grandes aeroportos terrestres em locais remotos. Na época as companhias aéreas usavam ilhas como bases intermediárias para conectar os continentes. Apesar de muito mais rápido do que os navios, as travessias podiam levar dias. As rotas eram cuidadosamente planejadas para aproveitar ao máximo do alcance da aeronave. 
Com o avanço da aviação comercial e a construção de cada vez mais aeroportos. Os hidroaviões foram se tornando obsoletos rapidamente. Os litoplanos (aeronaves terrestres) eram capazes de voar mais rápido e gastavam muito menos combustível do que os hidroaviões. Ao contrário dos modelos contemporâneos, que eram adaptações de aeronaves militares, o Constellation foi projetado desde o início para voos comerciais, oferecendo melhor conforto e eficiência. Seu interior espaçoso, elegante e pressurizado definiu novos padrões de luxo, tornando-o a escolha preferida das companhias aéreas. O Lockheed Constellation foi um divisor de águas na aviação de longa distância, com alcance e desempenho que outras aeronaves tentariam igualar. Ele possibilitou voos sem escalas em rotas como Nova York - Londres e Los Angeles - Havaí. Seu design único, com uma silhueta curva e cauda tripla, contribuíram para sua popularidade, sendo considerada uma das aeronaves mais bonitas de todos os tempos.
No Brasil o Constellation foi responsável por inaugurar as rotas da Panair do Brasil para Europa, em 1946, e também foi escolhido pela Varig e pela Real para inaugurar seus voos de longa distância para os EUA, na década de 1950.


1948: O primeiro turboélice Vickers Viscount
O Viscount foi a primeira aeronave comercial a adotar motores turboélice, uma inovação que oferecia maior eficiência em comparação aos motores a pistão, utilizados até então. A cabine do Viscount era mais silenciosa e vibrava menos do que as aeronaves com motores a pistão, proporcionando uma experiência mais agradável para os passageiros. Ele oferecia maior alcance e economia de combustível comparado aos aviões de mesmo porte movidos por motores a pistão.
Os motores turboélice geram potência mais elevada em relação aos motores a pistão de tamanho comparável. Isso significa que os turboélices podem voar mais rápido, reduzindo o tempo de viagem, e podem voar mais alto, com menor resistência aerodinâmica e longe de instabilidades climáticas.
Vickers Viscount foi amplamente adotado por companhias aéreas em todo o mundo, sendo um sucesso de exportação para o Reino Unido. 
No Brasil o Viscount foi escolhido pela Vasp, em 1958, para renovar a frota. Graças a sua maior velocidade, a rota Rio de Janeiro - Manaus passou a ser feita em apenas um dia.


1949: O primeiro jato De Havilland Comet
Em um misto de inovação e tragédia, o de Havilland Comet foi o primeiro jato comercial do mundo. O Reino Unido liderava o desenvolvimento de motores a jato, graças a pioneiros como Frank Whittle, que inventou o motor a jato durante a Segunda Guerra Mundial. Empresas como Rolls-Royce e de Havilland estavam na vanguarda da tecnologia e apostaram no potencial dos jatos para criar um produto revolucionário no setor de aviação comercial. Após a guerra, o governo britânico incentivou a indústria aeronáutica como forma de revitalizar a economia e recuperar sua posição de liderança global. O Comet foi projetado como uma aeronave elegante, pressurizada e equipada com motores turbojato, proporcionando voos mais rápidos, silenciosos e confortáveis. Inicialmente o Comet foi um sucesso instantâneo, todas as companhias aéreas queriam ter a aeronave mais avançada. O Reino Unido estava em uma posição estratégica, com larga vantagem em relação aos EUA e outras potências europeias. Porém, entre 1953 e 1954, várias aeronaves Comet sofreram acidentes fatais. Investigações revelaram falhas causadas por fadiga do metal e concentração de tensões em torno das janelas quadradas. Na época o conceito de fadiga do metal era pouco compreendido. Após os acidentes, todos os Comet foram retirados de serviço. Embora o projeto tenha sido revisado e melhorado, a confiança pública no avião foi severamente abalada. Concorrentes, como Boeing 707 e Douglas DC-8, aproveitaram o momento para dominar o mercado. As falhas catastróficas mancharam a reputação do Comet e beneficiaram seus concorrentes, que projetaram seus jatos já sabendo dos problemas da fadiga do metal. As janelas quadradas, que causavam concentrações de tensão, foram substituídas por janelas arredondadas, o padrão utilizado até hoje nos jatos. 
No Brasil o Comet chegou a ser encomendado pela Panair do Brasil, que acabou desistindo da aeronave após os acidentes.


1960: O primeiro turbofan Tupolev Tu-124
O Tupolev Tu-124 foi a primeira aeronave comercial do mundo equipada com motores turbofan. A União Soviética tinha tradição em inovar na aviação comercial, criando uma espécie de competição tecnológica com o Ocidente. O Tu-104, por exemplo, foi o segundo jato comercial do mundo. E por algum tempo foi o único jato comercial em operação no mundo, após os Comet serem retirados de operação. Apesar de ser o primeiro, o Tu-124 ficou limitado ao mercado soviético. A aeronave foi projetada para atender às necessidades internas da URSS e de países aliados. Além disso a tecnologia dos motores turbofan ainda era muito recente, o que limitava o tamanho e o alcance da aeronave e a eficiência do motor.
Com o avanço das pesquisas e tecnologia, as vantagens dos motores turbofan foram se tornando cada vez mais evidentes. Os turbofans consomem menos combustível do que os turbojatos (os motores que equipavam os jatos comerciais até então), especialmente em voos de longa distância. Além disso, o design do turbofan reduz significativamente o ruído em comparação aos turbojatos, um fator importante para o conforto dos passageiros e para o cumprimento de normas ambientais. Os motores turbofan começaram a aparecer no ocidente na década de 1970, eles se diferem dos turbojatos por serem maiores, já que abrigam um ventilador na parte da frente. A parti daí os motores turbofan se tornaram o padrão da indústria, sendo utilizados até os dias de hoje.


1963: pau para toda obra Boeing 727
Os jatos já dominavam as rotas internacionais de longa distância, mas as rotas domésticas ainda eram dominadas pelos turboélices. Ao combinar a velocidade, o alcance e a capacidade de um jato com a adaptabilidade de aeronaves menores, o Boeing 727 ofereceu um pacote único para companhias aéreas. Ele foi projetado especificamente para rotas regionais e mercados em crescimento, onde aeronaves maiores, como o Boeing 707, não eram viáveis. Equipado com flaps avançados, o 727 tinha excelente performance em pousos e decolagens em pistas curtas e até mesmo não pavimentadas. Sua capacidade de operar em aeroportos sem infraestrutura ampliou significativamente as possibilidades para as companhias aéreas. O B727 possuía uma escada traseira embutida, permitindo que passageiros embarcassem e desembarcassem em aeroportos sem fingers ou escadas móveis. Os motores montados na cauda reduziam o risco de ingestão de detritos das pistas, ideal para operar em locais com pistas não pavimentadas. Sua versatilidade e confiabilidade o tornaram o jato comercial mais vendido de todos os tempos. Porém a liderança acabou sendo perdida para o Boeing 737. Lançado em 1968, o 737 tinha dois motores montados sob as asas, mais eficiente em termos de consumo de combustível e custos de manutenção. À medida que os aeroportos regionais se modernizavam, as vantagens do 727 diminuía, favorecendo o seu irmão mais econômico.
No Brasil o Boeing 727 foi operado na versão de passageiros pelas principais companhias aéreas brasileiras da época VarigCruzeiro, Transbrasil e Vasp


1969: O segundo supersônico Concorde
Segundo? Isso mesmo, o primeiro avião comercial supersônico do mundo foi o Tupolev Tu-144. A URSS foi pioneira mais uma vez e lançou o Tu-144 cerca de dois meses antes do Concorde. Para superar o rival europeu, o projeto do Tu-144 foi acelerado. O prazo apertado levou a decisões arriscadas, que podem ter comprometido o desempenho e a segurança. Um acidente fatal com o Tu-144, em uma demonstração no Paris Air Show, prejudicou permanentemente sua reputação. A aeronave operou apenas 55 voos regulares, operando com passageiros apenas entre 1977 e 1978.
Já o Concorde teve uma carreira mais longa, porém também bastante turbulenta. Desenvolvido em uma parceria entre o Reino Unido e a França, ele prometia revolucionar a aviação comercial ao oferecer velocidades inigualáveis, conectando continentes em metade do tempo dos aviões convencionais. O Concorde operava em velocidades superiores a dois mil quilômetros por hora, permitindo, por exemplo, voar de Londres a Nova York em cerca de 3 horas e meia. Antes mesmo de voar, o Concorde tornou-se um ícone de inovação, luxo e exclusividade, atraindo as principais companhias aéreas do mundo. As previsões iniciais indicavam que haveria alta demanda por viagens supersônicas, especialmente em rotas transatlânticas e intercontinentais. 
Entretanto os custos do projeto se mostram muito superiores ao inicialmente previsto. O Choque do Petróleo, em 1973, elevou o custo do combustível de aviação - praticamente inviabilizando a operação do Concorde, com altíssimo consumo de combustível. Além disso o Concorde começou a sofrer com preocupações ambientais devido ao seu alto nível de ruído e as consequências do estrondo sônico. Em contrapartida os jatos subsônicos, lançados na mesma época, se mostraram muito mais econômicos e eficientes, possibilitando passagens mais baratas e alcançando um público mais amplo. 
Apesar do avanço tecnológico e da maior velocidade, o Concorde foi superado por aeronaves subsônicas mais eficientes. 
No Brasil o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, foi um dos poucos do mundo a receber voos regulares do Concorde, na rota Rio - Paris.


1969: O gigante Boeing 747
O Boeing 747 foi um marco na aviação comercial. Ele não apenas revolucionou a indústria com a introdução do conceito wide-body (fuselagem larga), mas também transformou as viagens aéreas, tornando-as mais acessíveis para milhões de pessoas. Permitindo transportar cerca de 350 passageiros em configuração de três classes ou mais de 500 passageiros em uma configuração de classe única, seu tamanho e capacidade dobraram em comparação aos jatos anteriores, como o Boeing 707. O design interno oferecia comodidades inéditas na época, como lounge no andar superior, criando um novo padrão de luxo em voos comerciais. Sua alta capacidade permitiu que as companhias aéreas reduzissem os custos por assento. Isso resultou em passagens mais acessíveis, democratizando as viagens internacionais para uma base mais ampla de passageiros.
Antonov An-22 é considerado o primeiro wide-body do mundo. Porém não levava passageiros, apenas carga. Mesmo muitos anos após o seu lançamento, o 747 continuou reinando absoluto como o maior avião de passageiros do mundo, até ser desbancado pelo A380.
O desenvolvimento de aeronaves bimotoras de longa distância, como o Boeing 777, permitiram que essas aeronaves oferecessem capacidade de passageiros e alcance similar com menor consumo de combustível, tornado o 747 obsoleto.
No Brasil o Boeing 747 foi operado pela Varig, a partir de 1981, se tornando o flagship da frota durante os anos 1980 e 1990.



1987: O fly-by-wire do Airbus A320
A introdução da tecnologia fly-by-wire no Airbus A320 foi um divisor de águas na aviação comercial. Essa tecnologia substituiu os controles mecânicos tradicionais por sistemas eletrônicos que transmitem os comandos do piloto aos sistemas de voo. Foi uma inovação que não apenas transformou a forma como os aviões eram operados, mas também estabeleceu novos padrões de segurança e eficiência no setor. No sistema fly-by-wire os comandos do piloto são processados por computadores que ajustam automaticamente os sistemas de voo para manter a estabilidade e eficiência. Isso reduziu significativamente o risco de erros humanos em situações críticas. O A320 foi o primeiro avião comercial a adotar um sidestick (manche lateral) em vez do manche central tradicional.
A320 e seu sistema fly-by-wire enfrentaram desafios e ceticismo inicialmente, tanto por parte de pilotos quanto de reguladores. Pilotos, acostumados aos controles mecânicos, inicialmente relutaram em aceitar o sistema eletrônico, temendo perder o "feeling" direto dos controles da aeronave. Também haviam preocupações sobre a confiabilidade de sistemas eletrônicos em comparação com os mecânicos tradicionais, tais como falhas de software ou perda de energia. Um incidente no voo de demonstração do A320 no Air Show de Habsheim, em 1988, contribuiu para uma percepção inicial negativa. Reguladores, como a FAA e a EASA, foram rigorosos na certificação do sistema, exigindo extensos testes para garantir sua confiabilidade. Com o passar do tempo, o A320 foi provando a sua confiabilidade e eficiência. O A320 começou a ser adotado por cada vez mais companhias aéreas e começou a ameaçar o jato comercial de maior sucesso de todos os tempos, o Boeing 737. O sucesso do fly-by-wire levou outras fabricantes a adotar essa tecnologia em suas aeronaves. Embora inicialmente cética, a Boeing implementou o fly-by-wire em seus modelos, começando com o Boeing 777 e na nova geração Boeing 737NG. No entanto a Boeing manteve filosofias distintas, como o uso de manche tradicional em vez de sidestick.
Embora tenha enfrentado desafios iniciais, o fly-by-wire se tornou o padrão da indústria, sendo amplamente adotado por outras fabricantes. O pioneiro A320 se tornou o segundo jato comercial mais vendido de todos os tempos e elevou a Airbus para líder na fabricação de aeronaves comerciais no mundo. 
No Brasil o A320 foi introduzido pela Tam, em 2000. Em menos de 10 anos, mais de cem aeronaves da Família A320 estavam em operação no país.


2009: Materiais mais leves do Boeing 787
O Boeing 787 foi o primeiro avião comercial construído majoritariamente com materiais compostos, o que representou uma mudança significativa na engenharia aeronáutica. Cerca de 50% do peso estrutural do 787 é composto por materiais como fibra de carbono reforçada com plástico, que são mais leves e resistentes do que os metais tradicionais como alumínio e titânio. Essa mudança reduziu significativamente o peso da aeronave, aumentando a eficiência de combustível em comparação com aeronaves anteriores. Os materiais compostos são menos suscetíveis à corrosão e à fadiga do metal, reduzindo custos de manutenção e aumentando a durabilidade da aeronave. O uso de compósitos permitiu o desenvolvimento de uma fuselagem mais aerodinâmica e flexível, contribuindo para uma performance superior em voo. A cabine do B787 é pressurizada para uma altitude mais próximo ao nível do mar e também com maior umidade, reduzindo o desconforto dos passageiros. Sistemas elétricos substituem muitos sistemas hidráulicos tradicionais, reduzindo peso e melhorando a eficiência. Desde seu lançamento o Boeing 787 se tornou um dos aviões de passageiros mais populares do mundo, atraindo companhias aéreas ávidas pelas economias prometidas pela nova aeronave.
O pioneirismo do 787 também trouxe desafios, como atrasos no desenvolvimento e problemas com incêndios em baterias de íon-lítio. Apesar disso a aeronave seguiu com alto volume de encomendas, se tornando uma das aeronaves a chegar mais rápido na marca de mil unidades produzidas. Após o B787, o uso de materiais compostos se tornou padrão na indústria aeronáutica.
No Brasil o Boeing 787 foi introduzido pela Latam, em 2021, quando o modelo passou a ser a principal aeronave para voos de longa distância ao lado do Boeing 777.


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Airbus A321XLR: Narrow-bodies no mercado de longa distância

Hoje a Airbus anunciou a entrega do primeiro Airbus A321XLR (eXtra Long Range) para a Iberia. Essa é uma versão de longo alcance do A321neo, desenvolvida pela Airbus especialmente para o mercado de voos de longa distância. Com custos operacionais mais baixos, esse narrow-body (fuselagem estreita) é ideal para rotas de menor demanda, onde aeronaves wide-body (fuselagem larga) não são viáveis. O A321XLR tem o potencial de transformar a indústria aérea ao possibilitar a abertura de rotas diretas de longa distância que antes eram economicamente inviáveis. Essa mudança tem implicações importantes para passageiros, companhias aéreas e aeroportos e pode alterar a dinâmica de voos intercontinentais e o funcionamento dos hubs tradicionais.


MUDANDO A DINÂMICA DO MERCADO
A321XLR é mais barato de operar em comparação com aeronaves wide-body, como o A330 ou B787, uma vez que é uma aeronave menor, com menor consumo de combustível e custos menores de manutenção. Mesmo os menores wide-bodies disponíveis são aviões muito maiores, que precisam de uma alta demanda constante para justificar sua operação e cobrir os seus custos. 

Tradicionalmente muitas companhias aéreas dependem do modelo hub-and-spoke, onde os grandes centros (hubs) concentram os voos, exigindo que os passageiros façam conexões para chegar em seu destino final. O A321XLR poderá desafiar esse modelo ao permitir que empresas ofereçam mais voos diretos de cidades menores. Por exemplo: uma rota entre Fortaleza e Nova York pode ser mais lucrativa com um A321XLR, sem a necessidade de escalas em hubs como São Paulo. Dessa forma os hubs podem acabar perdendo parte do tráfego, já que novas rotas diretas tornam mais fácil para passageiros voarem sem passar pelos grandes centros congestionados.


IDEAL PARA LOW COSTS
Com o A321XLR companhias aéreas low-costs terão mais chances de competir em rotas de longo curso, atualmente ainda dominadas por empresas de tradicionais. Uma das estratégias das low cost é justamente utilizar apenas aeronaves narrow-body, com custo operacional mais baixo. Isso pode resultar em mais opções de voo e tarifas mais competitivas. Empresas como a JetBlue podem aproveitar a aeronave para expandir significativamente suas rotas intercontinentais, sem precisar abandonar a premissa de utilizar apenas narrow-bodies. Além disso, o A321XLR é ideal para rotas sazonais e de lazer, onde a demanda é concentrada em certos períodos, como o período de férias. Esse também é um nicho muito explorado pelas low cost.


alcance do A321XLR tendo como base a cidade de Nova York

O DESAFIO DO QUESITO CONFORTO
Embora ofereça grande eficiência para voos de longa distância, o A321XLR apresenta limitações no quesito conforto quando comparado com aeronaves wide-body. Por ser um narrow-body, a fuselagem do A321XLR é estreita, tornando o espaço na cabine limitado, principalmente para assentos grandes como os encontrados na classe executiva. No entanto a Airbus tomou medidas para tornar a experiência a bordo mais agradável, principalmente considerando que a aeronave pode operar voos de até 11 horas. O A321XLR está equipado com um sistema de entretenimento de última geração, compartimento de bagagens maiores, a possibilidade de ter assentos "full-flat" (que reclina 180º), seamless connectivity (capacidade de conectar dispositivos e sistemas sem interrupções ou atrasos) e assentos mais largos na classe econômica (com 18''). 

Os assentos full-flat ou flat-bed já são uma realidade em aeronaves narrow-body há alguns anos. Companhias aéreas como American AirlinesJetBlueUnited, Tap e Copa já oferecem esse tipo de assento em suas aeronaves da Família A320 ou Boeing 737. Mesmo sem o incrível alcance do A321XLR, alguns modelos já conseguem realizar voos longos o suficiente para justificar esse tipo de assento. A grande diferença é que o A321XLR será o primeiro narrow-body que terá a capacidade de realizar de fato um voo considerado de longa distância, que apenas aeronaves wide-bodies eram capazes de fazer.

Em comparação aos wide-bodies, a cabine mais estreita do A321XLR tem menos espaço lateral por passageiro, o corredor único também pode dificultar a movimentação durante o voo e aumentar a espera para uso dos banheiros. Por ser menor, o A321XLR pode ser menos estável, especialmente em condições meteorológicas adversas. 


assentos full-flat em narrow-bodies
FLEXIBILIDADE
Airbus A321XLR se destaca pela flexibilidade operacional, pois é capaz de realizar tanto voos de curta distância quanto rotas intercontinentais longas com eficiência. Essa característica é altamente vantajosa para as companhias aéreas, que podem otimizar a utilização da frota e explorar mercados de forma mais estratégica. Em vez de deixar aviões de longo curso parados em aeroportos durante o dia, o A321XLR pode ser usado para rotas curtas ou médias entre voos longos. Pilotos e tripulação treinados para o A321XLR podem operar também outros modelos da Família A320, simplificando a logística e diminuindo custos com treinamento.

A321XLR oferece liberdade para as companhias testarem novas rotas sem precisar comprometer um wide-body. Se uma nova rota não for rentável, é fácil recolocar a aeronave em outro serviço, pois ela é igualmente eficiente em distâncias menores.


ONDE O A321XLR IRÁ OPERAR
Em setembro de 2024 a Airbus já tinha contabilizado mais de 550 encomendas para mais de 25 companhias aéreas em todo o mundo. Alguns exemplos de companhias que já manifestaram onde irão alocar seus A321XLR foram: a Azul e Latam pretendem usar em voos entre as capitais do nordeste e EUA e Europa, a Iberia deverá usar entre Madri e os EUA e a Wizz Air entre a Europa e o Oriente Médio.

A flexibilidade do A321XLR em operar tanto em rotas curtas quanto longas faz dele uma ferramenta estratégica para companhias aéreas. Ele maximiza a utilização da frota, minimiza riscos financeiros e aumenta a eficiência operacional, permitindo que as empresas se adaptem rapidamente às condições de mercado e às variações sazonais. Esse equilíbrio entre alcance, capacidade e eficiência faz do A321XLR uma aeronave ideal para explorar novos mercados, atender rotas de demanda média e otimizar a operação tanto em voos curtos quanto intercontinentais.


terça-feira, 22 de outubro de 2024

Participação no mercado: América do Sul - EUA e Europa

Quem leu o post Participação no mercado 2022/2023 - América do Sul, já sabe que a Latam lidera no Chile e no Peru, que a Avianca lidera na Colômbia e que a Aerolíneas lidera na Argentina. Mas e se considerarmos todos os voos entre os EUA e a América do Sul e todos os voos entre a Europa e a América do Sul, quem são as líderes? Essa é a pergunta que vamos responder agora.

A disputa pelos mercados entre a América do Sul e os Estados Unidos/Europa têm sido marcada por forte concorrência entre as companhias aéreas ao longo dos últimos anos. A dinâmica desses mercados envolve tanto companhias aéreas locais/regionais, quanto grandes grupos aéreos. Movimentações, fusões e parcerias estratégicas têm redefinido as posições de liderança.


Code-Share
O code-share começou a se tornar comum nos anos 1990 e revolucionou o mercado de aviação comercial, criando uma nova dinâmica de cooperação entre as companhias aéreas. Esse acordo permite que duas ou mais empresas aéreas compartilhem o mesmo voo, com uma das companhias operando o voo e as outras vendendo bilhetes como se fossem seus, usando seus próprios códigos. Ao invés de precisarem investir em novas bases, aviões e equipes, as companhias aéreas passaram a oferecer mais opções aos seus clientes por meio de parcerias com outras companhias aéreas que já operavam nessas rotas, reduzindo assim os custos de operação e aumentando a ocupação das aeronaves.
Do ponto de vista do passageiro, o code-share oferece uma maior disponibilidade de destinos, uma experiência de viagem mais integrada e confortável, sem precisar se preocupar com múltiplas reservas e processos de check-in, e também a possibilidade de acumular e resgatar milhas em programas de fidelidade mesmo voando em companhias parceiras.

Voltando lá no inicio da década de 1990, o code-share (o primeiro passo) ainda era algo desconhecido. As companhias aéreas serviam todos os destinos por conta própria. No Brasil, a líder Varig atendia mais de 40 destinos internacionais, incluído alguns impensáveis hoje como Lagos e Abidjan. No final da década o code-share passou a ser uma comum nos voos internacionais. Do lado brasileiro, vários destinos antes atendidos pela própria Varig passaram a ser servidos em code-share com parceiras como por exemplo Chicago, Washington, São Francisco, Barcelona, Roma e Cidade do Cabo. Já do lado das estrangeiras, as americanas e europeias operavam voos que conectavam os EUA ou a Europa diretamente ao Brasil e depois seguiam para outros países da América do Sul como Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile. Na era do code-share esses voos foram extintos e os trechos entre o Brasil e outros destinos na América do Sul passaram a ser operados por code-share. Se antes a Lufthansa precisava ter voos até o Santiago, agora ela podia voar apenas até São Paulo e de lá seus passageiros seguiam para o Chile em um voo da parceira Varig. Como consequência a Lufthansa deixou de operar no Chile. Situações semelhantes aconteceram com várias companhias aéreas e mercados na América do Sul nesse período. O resultado foi uma concentração maior do mercado e menor quantidade de companhias aéreas em mercados menores como Equador, Paraguai, Uruguai e Bolívia. 

Quem eram as líderes nessa época? Com o Brasil sendo de longe o maior mercado, as líderes no Brasil naturalmente eram as líderes na América do Sul: VarigPan Am (e depois American), Air FranceTap e IberiaAmerican e a Iberia tinham a vantagem de ter forte presença não só no Brasil, mas também em outros países da América do Sul. 


Alianças Globais
O próximo passo foi o surgimento das alianças globais, no final dos anos 1990 e inicio dos anos 2000. Essas alianças formalizam as parcerias entre um grupo de companhias aéreas, permitindo o compartilhamento de voos e serviços de forma mais ampla e eficiente. Cada aliança oferece aos passageiros acesso a uma rede global de destinos. As alianças facilitam o code-share entre seus membros, proporcionando vantagens adicionais para passageiros frequentes e permitindo que as companhias aéreas ampliem sua rede global sem grandes investimentos. Atualmente existem três alianças globais no mundo: Star Alliance, SkyTeam e OneWorld.

Mais uma vez a companhia aérea líder no Brasil exerceu grande influencia sobre a aliança global líder nos voos para a América do Sul. Nos anos 1990, a Star Alliance liderava com folga os voos para a Europa e EUA. No final dos anos 1990 a OneWorld assumiu a liderança nos voos para os EUA, graças a liderança da American. Quando a Tam se juntou a OneWorld, essa também passou a liderar os voos entre a América do Sul e a Europa. 
Em 2019 a Latam Brasil decidiu sair da OneWorld, o que mudou a dinâmica do mercado novamente. Hoje os voos entre a América do Sul e os EUA são liderados pelas companhias sem aliança, com 39% dos passageiros, seguido pela OneWorld, representada pela American. Já nos voos para a Europa, a líder é a SkyTeam, com 35%.


Fusão
A partir dos anos 2000 as fusões entre grandes e importantes companhias aéreas no mundo começou a criar os gigantescos grupos aéreos. As fusões visam criar empresas mais fortes, capazes de competir em um ambiente globalizado, altamente competitivo e com custos elevados. Elas também geram sinergias, que reduzem os custos e geram ganhos de escala. O resultado é uma empresa mais eficiente e melhor preparada para enfrentar crises econômicas, flutuações nos preços dos combustíveis e outros desafios estruturais. 

Em 2003 a criação do grupo Air France-KLM começou a ameaçar a liderança da Iberia nos voos entre a Europa e a América do Sul. As fusões nos EUA também geraram mudanças no mercado para a América do Sul, com a American perdendo participação - apesar de manter a liderança. Também nessa década outras companhias aparecem no Top 10 como Air EuropaAvianca e o grupo Lan. Ao mesmo tempo, outros mercados cresceram mais rápido do que o Brasil, diluindo a parcela do Brasil dentro do mercado total na América do Sul. 

Para se manterem competitivas num ambiente dominado por grupos aéreos cada vez maiores, as companhias aéreas sul-americanas começaram a entrar no processo de fusões. Se antes cada país tinha sua própria companhia aérea de bandeira, ao final da década de 2010 o Grupo Latam e Grupo Avianca dominaram a região.

Quem são os líderes hoje? O mercado América do Sul - EUA ainda é liderado pela American, embora sua participação continue caindo. Já no mercado América do Sul - Europa Grupo IAG (Iberia e British Airways) e Air France-KLM estão praticamente empatados.


Joint Ventures
Mais populares a partir dos anos 2010, as joint ventures (JVs) são acordos de cooperação estratégica entre duas ou mais companhias aéreas que vão além dos acordos tradicionais de code-share. Nesse tipo de parceria, as companhias aéreas colaboram de maneira muito mais profunda, compartilhando receitas, custos e planejamento de rotas em determinadas rotas ou mercados. A diferença entre uma joint venture e um code-share é que na JV as empresas praticamente agem como se fossem uma única companhia em relação às rotas incluídas no acordo. O objetivo é operar de forma mais eficiente e otimizar a utilização dos recursos. Isso permite que as companhias maximizem o potencial de receita em rotas de alta demanda sem a necessidade de fusão ou aquisição. Alguns exemplos de joint ventures incluem: Delta-Air France-KLM-Virgin Atlantic, American-British Airways e Latam-Delta. A JV com a Delta foi o motivo da saída da Latam da aliança OneWorld, uma decisão que reforça o quão valioso é esse tipo de acordo.


Low Cost, Low Fare
As companhias aéreas low cost, low fare operam com um modelo de negócios que visa oferecer o menor preço possível para os passageiros, eliminando serviços que tradicionalmente eram incluídos no bilhete, como refeições, bagagem despachada e escolha de assento. A chegada desse tipo de companhia trouxe maior competição, obrigando as companhias tradicionais a rever seus preços e ajustar suas estratégias para não perder mercado.

Inicialmente mais concentrado nos voos domésticos, as low cost, low fare começaram também a realizar voos internacionais, mudando também a dinâmica desse mercado. Devido ao modelo desse tipo de companhia, que normalmente tem uma frota padronizada apenas com aeronaves de curto/médio alcance, os voos internacionais na maior parte das vezes fica restrito a no máximo distâncias médias. Em 2024 estamos vivendo uma grande transformação nos voos dentro da América do Sul. A chegada de companhias como Sky e JetSmart, obrigou as companhias tradicionais como Latam e Avianca a repensarem suas operações para competir com tarifas mais acessíveis.

Embora ainda não seja uma realidade no Brasil, os mercados do Equador, Colômbia e Peru começaram a receber voos de uma nova geração de companhias aéreas no final da década de 2000 e inicio da década de 2010. JetBlue e Spitit possuem uma estrutura mais enxuta em relação as tradicionais e preços mais competitivos. Nos mercados da América do Sul onde essas companhias operam, as tradicionais também tiveram que se adaptar. A Spitit está a menos de dois pontos percentuais de se tornar a segunda maior no mercado Colômbia - EUA.

A chegada do Airbus A321XLR poderá impulsionar ainda mais esse tipo de operação na América do Sul, uma vez que essa aeronave de corredor único tem alcance suficiente para fazer voos entre as capitais da América do Sul e os EUA e também de cidades como Bogotá, Caracas, Fortaleza, Recife e Salvador e a Europa.



Foram considerados para os cálculos o número de passageiros transportados no Brasil (ANAC), Argentina (ANAC), Chile (JAC), Peru (DGAC), Colômbia (Aerocivil), Uruguai (DINACIA), Bolívia (DGAC), Paraguai (DINAC) e uma estimativa para o Equador (DGAC e Amadeus).


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Notícias rápidas - outubro/2024


Mais voos para a Colômbia
A Gol anunciou o inicio da rota Brasília - Bogotá em fevereiro de 2025, com três frequências semanais. Enquanto isso a rota SP - Bogotá - Buenos Aires será alterada para SP - Buenos Aires - Bogotá, a partir de dezembro. Já a Avianca iniciará um voo sem escalas entre Medellin e São Paulo, operado três vezes por semana, a partir de dezembro desse ano. 


Voepass suspende rotas
Após o acidente em agosto, a Voepass vêm reduzindo a sua malha. Ainda em agosto nove cidades deixaram de ser atendidas pela companhia. Em setembro a Voepass suspendeu voos para mais quatro destinos. Segundo a companhia, trata-se apenas de uma readequação da malha.


Mais voos para Santigo
Depois de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza, agora a Latam anunciou voos sem escalas entre Recife e Santiago, a partir de novembro desse ano, com uma frequência semanal.


Direto para Fernando de Noronha
Latam anunciou que a partir de novembro desse ano irá iniciar voos sem escalas entre São Paulo e Fernando de Noronha. A Latam era a única das grandes companhias aéreas que não tinha voos para a ilha. Até então todos os voos para Fernando de Noronha vinham de Recife ou Natal. Apesar do anuncio para novembro, a companhia só poderá mesmo iniciar voos para o aeroporto após a reforma da pista - que ainda não foi concluída.


Vacas magras
Azul anunciou mudanças no serviço de bordo em voos domésticos. Em voos de até 45 minutos será oferecido apenas água para os passageiros. Já nos voos com duração maior do que isso, os passageiros terão direito a apenas 1 snack (antes podiam pegar quantos quiserem). Os refrigerantes também sofreram restrição e serão disponibilizados apenas em voos que decolam depois de 11h da manhã.


Todas com TV
Latam passou a disponibilizar TV ao vivo a bordo de suas aeronaves. A companhia era a única das três grandes que não oferecia esse serviço. Através do aplicativo Latam Play, os passageiros agora têm acesso aos canais Globo, GloboNews, Multishow e Gloob.


WiFi gratuito
A partir de 2025 a Air France implementará um novo serviço de WiFi, mais rápido e totalmente gratuito para todas as cabines. Para acessar será necessário ter uma conta Flying Blue, que pode ser feita também gratuitamente. 


Total se despede do Boeing 727
No dia 20 de setembro, os dois últimos B727-200F ainda em operação realizaram os seus voos derradeiros. Eles foram substituídos pelos B737-400F. A Total Cargo operava o modelo desde 2000.


United também terá centro de manutenção em Guarulhos
Após adquirir o hangar da Tap no Galeão, a United anunciou a construção de um hangar próprio no aeroporto de Guarulhos


A220 para a TAAG
Em setembro a TAAG recebeu o seu primeiro A220-300, escolhido para renovar a sua frota de curto/médio alcance. O jato também inaugurou a nova pintura da companhia. Para renovar a frota de longo alcance, a TAAG deverá incorporar aeronaves B787.


Aeromexico completa 90 anos
Para comemorar a data, a companhia lançou uma atualização na logomarca e uma nova pintura em suas aeronaves.


Troca de aliança
A SAS, uma das fundadoras da Star Alliance, acabou se migrar para SkyTeam. O motivo é que a Air France-KLM agora é um dos acionistas da empresa, que saiu recentemente de uma recuperação judicial. 


Azul Cargo com A321
Visando manter uma frota mais padronizada, a Azul Cargo anunciou a substituição dos seus dois Boeing 737-400F por Airbus A321P2F. O primeiro A3211 deverá chegar ainda esse ano, porém só deverá entrar em operação regular no inicio de 2025. A chegada dos Airbus também representam um aumento na capacidade de carga, 27 toneladas contra 20 dos Boeing.


Voo internacional sem bagagem de mão
Numa clara reação a competição das ultra low cost como JetSmart e Sky, a Latam anunciou uma nova tarifa, denominada Basic, que não inclui nem bagagem de mão. Os passageiros dessa tarifa podem levar apenas um item pessoal de até 10 kg, que deve ser armazenado sob o assento, ou seja, uma mochila ou algo do tipo. A nova tarifa está disponível apenas em voos para a América do Sul. Na JetSmart e Sky esse tipo de tarifa já é uma realidade.


Salgado Filho volta a receber voos
O Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, voltou a receber voos no dia 21 de outubro. Inicialmente estão programados cerca de 250 decolagens semanais. O número de voos irá aumentar gradativamente até voltar ao patamar anterior ao fechamento.


Expansão em Guarulhos
A administração do aeroporto anunciou a construção de dois novos píeres de embarque no lugar onde hoje funciona embarques remotos, um no Terminal 2 para voos domésticos e outro no Terminal 3 para voos internacionais. Além dos píeres também estão previstas a ampliação do check-in, restituição de bagagem e pátio para as aeronaves. As inaugurações serão feitas por etapas, entre 2026 e 2029.


Mais B787 para a Latam
A companhia anunciou a encomenda de mais 10 unidades do modelo. Dessa forma a Latam espera ter nada menos que 52 Boeing 787 em sua frota até 2029.


Delta assume voos para Boston
Em comum acordo, o voo atualmente operado pela Latam entre São Paulo e Boston, será assumido pela Delta em janeiro de 2025. 


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Como ficará o Aeroporto de Congonhas?

Em outubro de 2023, o aeroporto de Congonhas, o segundo mais movimentado do Brasil, foi concedido à iniciativa privada. A Aena assumiu a operação, após ganhar a concessão por 30 anos. Para isso, a nova operadora deverá realizar uma grande obra de adequação e ampliação do aeroporto, prevista para estar finalizada em 2028. 

Um complicador para a obra é que ela terá que ser feita com o aeroporto em pleno funcionamento e por isso ela será feitas em etapas. As obras já foram iniciadas em 2024, começando pela criação de um bolsão para carros de aplicativos. O local onde funciona o embarque, se tornará o desembarque e será transformado em uma praça de integração, onde os passageiros terão acesso aos carros de aplicativo, taxi e metrô. A praça de embarque em carros de aplicativos ficará na cobertura do edifício garagem. O espaço terá áreas comerciais e lounges de espera. Os veículos acessarão o local por meio de novos viadutos, melhorando o fluxo de transito no local.

As pistas de taxi serão readequadas e novas pistas serão construídas, aumentando a distância entre as pistas de táxi e de pouso e decolagem e criando uma saída rápida da pista após o pouso. As instalações da aviação comercial e geral, que hoje estão juntas, ficarão separadas, uma de cada lado do aeroporto. Serão construídos também novos hangares e um terminal de cargas totalmente novo.

O terminal de passageiros ganhará um píer com 19 pontes de embarque (sete a mais que atualmente, e garantindo que mais da metade dos voos seja feito via pontes de embarque) e que mais que dobrará a área do terminal. O píer contará com um sistema de abastecimento das aeronaves pelo subsolo, dispensando a necessidade de caminhão-tanque. As pontes de embarque do píer terão capacidade de receber aeronaves do porte do Airbus A321 (hoje o tamanho máximo é o A320).

O novo terminal terá uma área nova para check-in e embarque, enquanto o desembarque será feito por onde atualmente é o embarque. O número de canais de inspeção aumentará de 10 para 17, haverá um novo sistema de processamento de bagagens e o aumento de 5 para 7 esteiras de restituição de bagagem, além de maior espaço para lojas e lounges. 

Com espaço limitado para expansão, a obra de ampliação esbarrou na questão do hangar histórico tombado, atualmente operado pela Gol. Para contornar a restrição, a Aena incorporou o antigo hangar ao terminal de passageiros e passará a abrigar a maioria dos embarques remotos. O hangar ainda abrigará uma temática de um museu da aviação, com peças, fotos e objetos históricos da aviação brasileira. Ao todo serão 18 portões de embarque remoto, dos quais 10 serão no hangar.

Segundo a Aena, após a obra, Congonhas poderá movimentar até 29,5 milhões de passageiros ao ano. A empresa também sonha com a possibilidade da volta de voos internacionais no aeroporto.


Aeroporto de Congonhas 2024 2028
Área do terminal (m²) 50 mil 105 mil
Milhões de passageiros/ano 17 29
Nº de portões 30 37
Nº de pontes de embarque 12 19
Maior aeronave A320 A321


terça-feira, 6 de agosto de 2024

Qatar lança Qsuite Next Gen

No final de julho, a Qatar Airways anunciou a nova geração da sua premiada Classe Executiva, a Qsuite. A Qsuite é considerada revolucionária por elevar o padrão da Classe Executiva e oferecer possibilidades inéditas até então. Na Qsuite é possível combinar os assentos para formar cabines ("suítes") duplas ou quádruplas. 


Todos os assentos são equipados com paredes e portas deslizantes, de modo que ao formar as suítes simples, duplas e quádruplas, estas ficam totalmente isoladas do resto da aeronave. Na suítes duplas e quádruplas é possível transformar dois assentos numa cama de casal. Apenas na quádrupla é possível realizar refeições em uma mesa para quatro pessoas. 

A Qsuite foi a primeira Classe Executiva a oferecer portas, algo só encontrado na Primeira Classe até então, oferecendo total privacidade para os passageiros. Aliado ao revolucionário sistema de suítes simples, duplas e quádruplas, a Qatar Airways criou uma Classe Executiva que até hoje não foi  desafiada por nenhuma outra. Há mais de cinco anos consecutivos a Classe Executiva da Qatar é eleita a melhor do mundo, pela Skytrax. Mesmo após outras companhias aéreas elevarem o nível de suas Classes Executivas, oferecendo, entre outras novidades, as portas.


Suíte dupla

Suíte quádrupla

A nova versão, Qsuite Next Gen, traz algumas melhorias como telas de entretenimento 4K, maior espaço nas cabines, divisórias mais altas e a possibilidade de suítes duplas nas janelas.  A versão aprimorada será inaugurada no Boeing 777-9.

Além disso, os assentos da Qsuite são equipados com carregamento sem fio para celulares, tomada, entradas USB-A, USB-C, HDMI e NFC, espaço para armazenar objetos, bluetooth para fones de ouvido, luz individual e massagem. Os passageiros recebem uma nécessaire com as amenities, pijamas e pantufas. Os banheiros são maiores do que normal e equipados com mais amenities. As luzes da cabine também contribuem para a sensação de conforto e bem-estar, ajustando o tom e a intensidade ao longo das etapas do voo. 

Os passageiros da Qsuite que embarcarem no aeroporto de Doha têm ainda a sua disposição o melhor lounge de Classe Executiva do mundo, de acordo com o ranking da Skytrax.

Com todos esses detalhes cuidadosamente pensados para maximizar o conforto do passageiros, não há dúvidas que a Qsuite logo se mostrou uma produto imbatível. Mesmo com o passar do tempo para que os concorrentes melhorassem suas cabines de Classe Executiva, a Qsuite se mantem como a preferida pelos passageiros até hoje. E a Qatar quer garantir que continue assim com o lançamento do Qsuite Next Gen.


terça-feira, 16 de julho de 2024

Como as pessoas viam o futuro da aviação comercial ao longo do tempo (parte 2)

Na parte 1 vimos que os aviões já foram considerados inúteis e que jamais iriam fazer parte da vida quotidiana da população. Quando a aviação já era uma realidade, o futuro foi imaginado com vários barcos voadores ou dirigíveis cruzando os oceanos e finalmente um futuro apenas de jatos. Mas o futuro iria se mostrar imprevisível mais vezes.

Clique aqui para ler a Parte 1


Anos 1970 - Supersônicos VS Wide-bodies

No final dos anos 1960 o domínio dos jatos já estava claro. Mas qual seria o futuro? Será que iríamos ver um B707 esticado para caber mais passageiros? E de fato a Boeing chegou a estudar isso, mas acabou descartando esse projeto para focar em algo totalmente novo, graças aos pedidos insistentes da Pan Am.


"O 747 é o lançamento mais revolucionário e fascinante da indústria aeronáutica, aguardado com expectativa só comparável à dos vôos pioneiros de Charles Lindbergh ou Gago Coutinho. (...) O lançamento do Boeing 747 significa o nascimento de uma segunda era do jato."

A reportagem da revista Veja, em janeiro de 1970, testemunhava a chegada de uma nova geração de jatos, os wide-bodies, ou seja, aeronaves com dois corredores. Isso significava fuselagens muito mais largas e muito mais espaço para os passageiros. Enquanto na geração anterior, os B707 e DC-8, acomodavam seis assentos por fileira, dispostos em 3+3, na classe econômica, o B747 acomodava dez, dispostos em 3+4+3. Além disso o B747 tinha o comprimento de quase dois B707 e dois andares. O mundo jamais tinha visto uma aeronave comercial tão grande. Os wide-bodies foram responsáveis por iniciar a popularização do transporte aéreo em voos internacionais. Se o B707 podia levar cerca de 140 passageiros, o B747 podia levar 350 - o que fez o custo por assento despencar. Assim as companhias aéreas puderam oferecer bilhetes com preços muito mais acessíveis. O B747 foi sem duvidas o wide-body mais icônico e também o primeiro do mundo. As outras fabricantes se apressaram para produzir os seus, como o DC-10Tristar e A300.


Não foi só o tamanho que aumentou, os wide-bodies trouxeram também uma nova tecnologia: motores turbofan. Você já reparou que os motores do B737-200 são muito mais delgados do que os do B737-300? A diferença é que a versão 200 usa um turbojet, o mesmo tipo da chamada 1º geração de jatos, tais como o B707 e DC-8. Já a versão 300 usa um turbofan, a mesma tecnologia que chegou no B747. O turbofan também é um motor a jato e muito semelhante ao turbojet. Sua diferença mais visível é um ventilador que fica na frente do motor, por isso o motor precisa ser maior. Esse ventilador fornece uma operação mais eficiente ao permitir mais fluxo de ar para dentro e para fora do motor do que o turbojet. Em comparação aos turbojet, os motores turbofan são mais econômicos, menos poluidores, mais silenciosos e mais potentes. Não é à toa que ele rapidamente virou o tipo dominante de motor a jato e ainda é o dominante até os dias de hoje. Porém o turbofan tem suas desvantagens: manutenção mais complexa e, por ser maior, o motor gera mais arrasto e peso na aeronave.

Interior do B747 nos anos 1970

Se por um lado a chegada dos wide-bodies popularizou as passagens em classe econômica, por outro a primeira classe elevou o nível de luxo a bordo. O tamanho do B747 permitiu a instalação de lounge, bar e várias outras comodidades inéditas. A Pan Am, por exemplo, já teve uma sala de jantar dentro da aeronave, com 14 lugares em três mesas para quatro pessoas e uma para duas. 

Apenas seis anos após o lançamento do Boeing 747 e uma revolução no transporte aéreo comercial, o mundo veria uma nova aeronave que poderia mudar tudo de novo.


"Espetacular? Mais que isso. Com a viagem inaugural Paris-Rio-Paris, o Concorde estará provavelmente iniciando a mais dramática aposta da aviação comercial em qualquer época - tão dramática que boa parte do mundo chegou a acreditar que ela nunca seria feita. (,,,) O Concorde abre esta semana, enfim, a sonhada era supersônica para os vôos de carreira."

Em janeiro de 1976 a revista Veja estava anunciando a chegada do Concorde no Brasil. Só pela aparência, diferente dos jatos convencionais, a aeronave já chama a atenção de qualquer um. Suas asas em formato ogival delta foram desenhadas especialmente para voos supersônicos. O nariz pontudo sobe e desce para facilitar a visão dos pilotos, uma vez que suas asas requerem um alto ângulo de ataque para manter a sustentação em baixas velocidades, levantando muito o nariz do avião e prejudicando a visão.

Enquanto o B747, jato mais veloz na época, precisava de 12h para realizar um voo entre Rio e Paris, o Concorde fazia isso em apenas 6h30 - isso ainda fazendo uma escala técnica em Dakar por causa do alcance limitado. Já o voo entre Nova York e Paris, o Concorde fazia em 3h20, enquanto o B747 demorava pelo menos 7h30 (nesse caso um passageiros que saísse de Paris pelo Concorde, chegaria em Nova York praticamente no mesmo horário que partiu em Paris, devido ao fuso horário). Em outras palavras o Concorde facilmente fazia o mesmo trajeto dos jatos tradicionais em menos da metade do tempo. Isso graças a sua velocidade, que alcançava duas vezes a velocidade do som ou Mach 2.0. Os jatos convencionais como o B747 têm velocidade subsônica, ou seja, menor que a velocidade do som (Mach 1.0), voando entre Mach 0.85 e Mach 0.88. 

Quem iria querer gastar o dobro do tempo em um gigante "lento", enquanto podia chegar muito mais rápido no seu destino pelo Concorde? Isso é o que as pessoas se perguntavam na época do lançamento da aeronave. Para muitos estava claro que os aviões supersônicos eram o futuro e em breve os turbofan seriam coisa do passado.

Concorde da Air France no Galeão - Rio de Janeiro em 1977

Sem querer perder a hegemonia para a Europa, as fabricantes americanas correram para projetar os seus próprios aviões supersônicos. A Boeing lançou o Boeing 2707, uma aeronave capaz de levar entre 250 e 300 pessoas em velocidade Mach 3.0, ou seja, três vezes a velocidade do som. Já a Lockheed lançou o L2000, com capacidade para cerca de 200 passageiros e velocidade de cruzeiro Mach 2.5. O governo americano se comprometeu a subsidiar 75% do desenvolvimento de um avião comercial para competir com o Concorde. O projeto SST (SuperSonic Transport) consumiu milhões e milhões de dólares sem ter um resultado satisfatório. Em março de 1971 o Senado dos EUA rejeitou a proposta de continuar o financiamento e o projeto foi encerrado.

Enquanto isso o Concorde ia bem e recebeu encomenda para mais de 100 unidades das principais companhias aéreas do mundo (uma delas era a Panair do Brasil). Porém as coisas começaram a mudar mesmo antes do primeiro Concorde ficar pronto.

Um problema ambiental: Os jatos supersônicos começaram a preocupar a opinião pública com relação a poluição ambiental e sonora que essas novas aeronaves poderiam trazer. Os EUA e outros países, como a Índia, acabaram proibindo voos supersônicos no território nacional, devido à poluição sonora. Isso significou que o Concorde perdeu um pouco da sua eficiência ao ter que voar em velocidades mais baixas por mais tempo.

Crise do petróleo em 1973: Todos já sabiam que o Concorde teria um consumo de combustível muito mais alto do que qualquer outro jato em operação. Mas isso poderia ser compensado pela maior velocidade, de modo que menos aeronaves seriam necessárias para cobrir uma mesma rota. Mas esse equilíbrio ficou muito mais difícil depois que o custo do combustível disparou.

Preço mais alto: Os custos de desenvolvimento do Concorde foram mais de seis vezes maiores do que o previsto, fazendo com que o preço da aeronave precisasse aumentar para compensar. Em outubro de 1972 um único Concorde estava custando USD 58 milhões, mais que o dobro de um B747 (USD 28 milhões) e mais de sete vezes o preço de um B707 (USD 8 milhões). O Jumbo custava 2,5 vezes o preço do 707, porém ele era capaz de transportar até mais de 2,5 vezes o número de passageiros. Já o Concorde transportava no máximo 100 passageiros, menos do que o B707.

Conclusão: todas as encomendas foram canceladas. Só sobrou a Air France e British Airways, que iriam comprar a qualquer custo, por questões políticas. 

Para os mais otimistas isso era só um contratempo. O Concorde provaria que os jatos supersônicos são muito superiores e era uma questão de tempo para novas versões mais econômicas e eficientes aparecerem e despertarem o interesse de todas as companhias aéreas. O B747 seria apenas uma moda passageira e estaria relegado ao transporte de carga em poucos anos.

Os passageiros empolgados e curiosos para voar nessa nova máquina, muitas vezes ficavam um pouco decepcionados com o que encontravam a bordo. Nada de corredores amplos e espaço: a fuselagem do Concorde era super fina (para garantir a aerodinâmica), tornando a cabine mais apertada do que um Boeing 737. Eram quatro assentos por fileira distribuídos 2+2 e as poltronas em nada lembravam os assentos gigantescos de primeira classe. As janelas eram menores do que qualquer outro jato, feitas assim para que em caso de despressurização a aeronave tenha tempo de descer para uma altitude com oxigênio suficiente para a respiração humana. O Concorde tinha uma altitude de cruzeiro muito maior do que os jatos comuns, tão alto que era possível observar a curvatura da Terra. Talvez a única coisa que lembrasse uma primeira classe era a refeição. A aeronave não possuía nem cinema a bordo, coisa já comum nos jatos de grande porte. E o preço? Era cerca de o dobro de viajar na primeira classe de um B747.

Interior do Concorde

Ao invés de se tornar o padrão, o Concorde virou um símbolo de status e luxo, disponível apenas para uma parcela muito restrita da população. O fabricante não conseguiu lucrar com a aeronave e nem as duas únicas companhias aéreas que o operavam. O golpe final foi um acidente ocorrido em um voo da Air France em julho de 2000. A ocupação dos voos despencou e o custo de operação se tornou insustentável, levando a aposentadoria do tipo em outubro de 2003. 

Por que o Concorde falhou? 
A verdade é que o Concorde se mostrou muito mais caro de operar do que o previsto. Vários fatores contribuíram para isso, incluindo os custos muito maiores para o desenvolvimento, o preço final do produto muito mais alto do que o esperado, preocupações ambientais e politicas criaram barreiras que tornaram a operação ainda mais custosa e o choque do petróleo de 1973, que acertou em cheio o ponto fraco de ser uma aeronave que consumia muito mais combustível do que as outras. A operação do Concorde nunca foi lucrativa, já em 1976 a Air France declarava prejuízos milionários com o jato supersônico. Mesmo após ter permissão de voar para Nova York, o avião só tinha demanda suficiente em pouquíssimas rotas. Dessa forma o Concorde não voava o suficiente nem para cobrir os custos de operação.

Por que os jatos atuais não conseguem voar mais rápido?
Concorde não poderia usar motores turbofan, simplesmente porque eles não são adequados para voos supersônicos. Os ventiladores dos turbofan jamais conseguiriam ser aerodinâmicos o suficiente para se alcançar velocidades superiores a do som. Eles são perfeitos para velocidades próximas, mas não maiores do que a do som. Os motores turbofan são usados até hoje, inclusive pelos jatos mais modernos. Por isso a velocidade se mantem basicamente a mesma do primeiro jato comercial, lançado nos anos 1950. Isso não quer dizer que os motores turbofan não evoluíram. Vamos falar sobre essa evolução no próximo tópico.

Por que não vimos mais outro jato supersônico comercial?
O próprio Concorde mostrou ao mundo que um jato supersônico comercial é muito mais complexo e, principalmente, caro de se produzir do que o calculado. As poderosas fabricantes americanas, mesmo com financiamento do governo, não foram capazes de tornar seus projetos uma realidade, apesar de consumirem muito, muito dinheiro. O único outro jato supersônico comercial do mundo foi o Tupolev Tu-144, porém apresentou problemas de confiabilidade e operou por pouco tempo. O Concorde também provou que um jato supersônico comercial bem-sucedido teria que ser muito mais econômico e eficiente, uma coisa muito difícil pelo próprio fato de ser um jato supersônico.

Como falado anteriormente, o Concorde não usava motores turbofan e sim motores turbojet (a mesma tecnologia dos motores do B707), que consumiam mais combustível, eram menos eficientes, menos potentes e mais barulhentos. E mesmo com quatro motores turbojet, o Concorde ainda precisava de mais potência em alguns momentos. É o processo de afterburner, que injeta combustível adicional, gerando mais empuxo. Porém isso também aumenta ainda mais o consumo de combustível de um motor que já tem pior desempenho que o turbofan. Além de precisar utilizar o afterburner na decolagem, o avião também precisava dele na velocidade transônica (perto de Mach 1.0). Quando está se aproximando da velocidade do som, aparece um fenômeno que aumenta o arrasto e impede o avião de continuar acelerando. Para vencer essa barreira é preciso uma potência adicional. Só depois que o Concorde ultrapassa a velocidade do som, o consumo de combustível dava uma reduzida. Mesmo sabendo que o consumo de combustível seria muito superior, se acreditava que a velocidade iria compensar. Mas a realidade mostrou que isso não foi o suficiente, ainda mais com um aumento no preço do petróleo de 300%, após o choque de 1973.

Entre velocidade e redução do consumo de combustível, as companhias aéreas escolheram a segunda opção. O caminho de aeronaves cada vez mais eficientes, menos poluidoras e mais silenciosas era exatamente o caminho oposto ao Concorde. Era o caminho dos wide-bodies, que além da economia trouxeram passagens mais baratas e acessíveis.

Refeições a bordo do Concorde (Abril Press)


Anos 1980 e 1990 - O mito dos quatro motores e a desregulamentação

"Algo impensável em termos de operação aérea há poucos anos atrás está-se transformando em rotina: vôo de longo alcance em bimotores a jato como o Boeing 767/757 e o Airbus A300/A310. Estes vôos não devem mais surpreender os passageiro (...). Segundo pesquisas os passageiros aceitam o bimotor em rotas intercontinentais com a mesma naturalidade de um DC-10 ou 747. Ou porque simplesmente sobem a bordo sem ligar para o que acontece em seu redor, ou porque confiam nos argumentos estatísticos."

A reportagem de Ernesto Klotzel, em junho de 1988, anunciava uma grande transformação silenciosa no mundo das viagens intercontinentais. Desde os primórdios da aviação comercial, quando foram lançados os grandes flying boats S-42 e Boeing 314, e o maior litoplano comercial da época, o DC-4, todas as aeronaves que cruzavam os oceanos usavam quatro motores. A primeira aeronave a quebrar essa regra foi o DC-10, que utilizava três motores. Os passageiros se sentiam mais seguros em cruzar os oceanos numa aeronave de quatro motores; ora se um motor falhar ainda tem outros três. Aliás isso era uma crença institucionalizada, haviam regras que impediam os jatos com apenas dois motores de cruzar oceanos. Os trimotores, como o DC-10, não sofriam essa restrição, afinal se um motor falhar ainda tem mais dois. Entretanto, seguindo o caminho de aeronaves cada vez mais eficientes, o lançamento de wide-bodies bimotores como o A300 e Boeing 767, iniciaram uma discussão sobre a possibilidade de uma aeronave de apenas dois motores cruzar os oceanos. Além da economia gerada com o uso de apenas dois motores, como menor consumo de combustível, menor tempo de manutenção e menor custo de operação, aeronaves mais modernas como o Boeing 767 dispensavam a necessidade de um engenheiro de voo, o que diminuiu ainda mais os custos de operação.

Boeing 767

"O inferno terá um dia de frio antes que eu deixe bimotores voarem em rotas de longo curso sobre a água" 

Essa foi a fala do diretor da FAA, J. Lynn Helms, quando questionado sobre a possibilidade de aeronaves de dois motores cruzarem os oceanos.

Em meio a muita discussão, os números não mentiam. Os motores turbofan tinham chegado em um nível de confiabilidade tão grande que a chance de um motor falhar em pleno voo era extremamente baixa e estatisticamente não fazia muita diferença se aeronave tinha quatro ou dois motores. Ademais os turbofan também tinham evoluído a ponto de uma aeronave com dois motores conseguir continuar voando com apenas um motor. Em 1982, com o lançamento da versão ER (Extended Range), o Boeing 767 iniciou a era dos chamados ETOPS (Extended Twin Operations). A regra foi estabelecia em 1936, e impedia que uma aeronave bimotor voasse mais longe do que 160 km de um aeroporto para pouso. Isso obrigava que a rota fosse traçada sempre observando que um aeroporto deveria estar no máximo a 160 km de distância. Em 1953 a regra mudou de distância para tempo de voo, agora a aeronave deveria estar a 60 minutos de voo de um aeroporto para pouso. Em 1985 o tempo foi dobrado para 120 minutos e, em 1988, aumentado para 180 minutos, tornando assim possível a travessia dos oceanos pelos bimotores. 

Com os bimotores fazendo voos intercontinentais, o preço das passagens ficou mais baixo e foram criadas rotas que antes eram inviáveis. Eles também trouxeram o fim dos jatos trimotores e uma queda acentuada na venda dos quadrimotores. Em 2007 a FAA liberou os bimotores para voar sem restrições, até o limite de seus respectivos alcances. 


"(...) Uma inovação que promete agitar intensamente a aviação comercial nos próximos meses. Com uma política de preços baixos permanente, e não apenas promocionais, a empresa quer se solidificar alargando o gargalo do transporte aéreo no país, limitado a um reduzido círculo de 5 milhões de pessoas." 

A reportagem de Valdete Cecato, em janeiro de 2001, anunciava a chegada da Gol, com o conceito low cost, low fare, ainda inédito no país. A criação desse modelo de operação só foi possível graças a desregulamentação do setor.

Em 1978 o Airline Deregulation Act entrou em vigor nos EUA. A desregulamentação do mercado trouxe o inicio de uma nova era na aviação comercial. As mudanças econômicas durante a década de 1970, como a crise do petróleo de 1973 e a estagflação, geraram discussões no Congresso dos EUA sobre as ineficiências causadas pelo sistema rígido de controle na aviação comercial até então praticado não só nos EUA, mas no mundo todo. Tarifas, rotas e a entrada de novas empresas era totalmente controlado pelos governos de cada país, de modo que as companhias aéreas tinham praticamente lucro garantido. No Brasil, por exemplo, o DAC impedia que qualquer outra companhia aérea cobrasse menos do que a Varig em voos internacionais. Com a desregulamentação todos esses controles foram retirados, o que gerou um grande aumento da competição e a reformulação de todo o setor.

Agora livres para fazer as rotas do jeito que querem, as companhias aéreas começaram a criar o sistema de hub. A mudança também possibilitou a criação de um conceito inédito, o "low cost, low fare". A pioneira foi a Southwest Airlines, ainda nos anos 1970. Esse novo tipo de companhia aérea conseguia vender passagens pela metade do preço das companhias tradicionais, graças a sua estrutura muito mais enxuta, gerando um custo de operação muito menor. Em 1990 as low cost, low fare chegaram na Europa e, nos anos 2000, no Brasil. Em fevereiro de 2002, quando a Gol passou a operar na Ponte Aérea RJ-SP, o preço de uma passagem de ida e volta caiu de R$ 574 para R$ 400 - uma redução de 30%. 


Se por um lado o preço das passagens estava caindo, por outro as companhias aéreas tradicionais, acostumadas a ter seu mercado cativo, começaram a entrar em dificuldades financeiras. Se elas quisessem sobreviver, teriam que acompanhar o mercado, reduzindo as tarifas e cortando custos. Muitas não sobrevieram. Companhias aéreas consideradas importantes demais para falir sucumbiram por não conseguirem se adaptar a nova realidade, entre elas a Aeroperu, Braniff, CanadianEastern, LABPan Am, SwissairTWAVarig e Viasa. E essa lista poderia ser muito maior, companhias como Air France, Alitalia e Japan Airlines só não acabaram porque foram salvas pelos governos de seus respectivos países.

E parou por ai? Não! Ainda haviam mais mudanças na década de 1990, a criação das alianças aéreas globais. A pioneira foi a Star Alliance, em 1997. Encaradas por muitos como uma "fusão virtual", as alianças permitiram que as companhias aéreas acessassem mais de mil destinos sem precisar ter voos próprios, além de compartilhamento de lojas, espaço no aeroportos, programas de fidelidade e code-share. As alianças globais racionalizaram as malhas internacionais das companhias aéreas, melhorando a lucratividade das empresas. Esse movimento fez as companhias aéreas enxergarem que juntas são mais fortes e foi o prelúdio para o que iria acontecer nos anos 2000: as fusões. Nomes como America West, Continental, Lan, NWA, TamUSAir sumiram do ar em prol de uma companhia aérea maior e mais bem preparada para competir. Se na década de 1990 haviam sete grandes companhias aéreas nos EUA, nos anos 2010 só haviam três. Na Europa as fusões também aconteceram, porém as marcas foram mantidas.



Anos 2000 e 2010 - Tamanho VS Eficiência

"Esta é a primeira tentativa ousada da indústria aeronáutica de se preparar para o crescimento de 84% do tráfego aéreo previsto para as próximas décadas. A supermáquina, chamada A3XX, deverá decolar no ano de 2003. (...) Seus executivos calculam que, em vinte anos, haverá mercado para 1380 aviões gigantes nas linhas mais movimentadas do planeta."

A reportagem de Daniel Nunes Gonçalves, em março de 1997, corroborava com o entendimento na época de que seria necessário aeronaves cada vez maiores para dar conta da demanda crescente de passageiros. Aliás esse foi o mesmo pensamento que culminou na criação do Boeing 747, cerca de 30 anos antes, e agora motivava a Airbus na criação do seu "super jumbo" A380. A ideia era que com o crescente aumento da demanda e a limitação dos aeroportos mais movimentados, a saída seria aeronaves cada vez maiores. A Boeing tentou contra-atacar com versões maiores do B747, mas estas não podia competir uma aeronave projetada do zero como o A380. Por achar muito arriscado e custoso investir em um novo Jumbo do zero, a Boeing apostou em outro futuro. Nele novas rotas sem escalas seriam criadas por aeronaves menores, porém mais eficientes. A criação de rotas antes inviáveis acabaria por desafogar o tráfego em rotas de alta demanda. A partir dessa visão, foi lançado o Boeing 787.



"A incomparável eficiência de combustível e flexibilidade de alcance do 787 ajudam as companhias aéreas a otimizar suas frotas e redes enquanto abrem novas rotas sem escalas."

O trecho retirado do site da Boeing ilustra a aposta da fabricante para o futuro. Apesar de terem apostas opostas, Airbus e Boeing também garantiram presença no futuro do outro, com o lançamento do Boeing 747-8 e do A350. A resposta das companhias aéreas foi bem claro, venceu mais uma vez o caminho de aeronaves cada vez mais eficientes. E esse não era mais representado pelos quadrimotores e sim pelos bimotores. Embora os quadrimotores tenham maior capacidade de passageiros, a economia trazida pelos bimotores falou mais alto. Além do mais, com o lançamento do Boeing 777-300, os bimotores conseguiram atingir uma capacidade muito próxima aos quadrimotores.

Visual inicial do Boeing 7E7 (787)

Boeing 747-8 encontrou apenas três clientes para a versão de passageiros, enquanto o A380 ficou relegado em poucas rotas de alta demanda e, principalmente, para companhias aéreas do Oriente Médio, com um modelo especifico de hub para voos de longa distância. Com a introdução dos bimotores de última geração como o A350 e B787, até mesmo para essas companhias o A380 se tornou antieconômico.

E finalmente chegamos no presente, numa aviação comercial dominada pelos jatos com motores turbofan, grupos aéreos gigantescos, passagens aéreas acessíveis para o grande público e o meio de transporte mais seguro do mundo.

As mais lidas dos últimos 12 meses

As mais lidas de todos os tempos

Populares

Postagem em destaque

Os Boeing que não existiram

Na industria da aviação comercial é muito comum aeronaves que ficaram só no papel. Todas as fabricantes possuem modelos que não deram certo ...

Sobre Nós

Minha foto
O site AviaçãoComercial.net foi criado em agosto de 2009, a partir do site FSDownload.net (lançado em 2004). O site www.aviacaocomercial.net é dedicado a aviação comercial brasileira, com informações sobre aeronaves, companhias aéreas, dados e etc. O Blog se dedica as últimas notícias de forma resumida, curiosidades e análises sobre aviação comercial.

Arquivo