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Aeronaves em constante evolução
Não é de hoje que as fabricantes de aeronaves comerciais como Airbus e Boeing enfrentam o dilema entre lançar uma aeronave totalmente nova ou melhorar uma aeronave que já existe. O caso mais emblemático é o Boeing 737, lançado originalmente em 1965. Mais de 55 anos depois, o modelo continua sendo vendido, sem um substituto oficialmente anunciado. Claro, que ao longo de meio século, o Boeing 737 passou por várias melhorias e modificações, porém ainda usando a estrutura básica da sua primeira versão da década de 1960. No inicio da sua carreira, o B737 competia com alguns modelos europeus como o BAC 1-11 e o Caravelle, além do conterrâneo DC-9. Já nos anos 70 e 80, a competição ficou mais restrita ao 737 vs DC-9 (que evoluiu para o MD-80). Nos anos 90 o MD-80 começou a perder terreno, enquanto a Família A320 emergia como o novo e o maior desafio do B737. O A320 havia sido lançado em 1981, mais de quinze anos depois do 737, garantindo a incorporação de tecnologias muito mais modernas e sofisticadas. Por mais que a Boeing consiga modernizar o 737, a sua estrutura básica dos anos 60 foi ficando cada vez mais defasada e mais difícil de ser adaptada para as novas tecnologias. A Boeing sabia disso e planejava lançar um sucessor totalmente novo após a Família B737NextGen. Porém a competição cada vez mais acirrada com a Família A320 e o lançamento da Família A320neo, obrigaram a Boeing a adiar um sucessor em troca de mais uma atualização, dando origem a Família 737MAX. Uma aeronave totalmente nova demoraria anos para ser desenvolvida e os 737NG não seriam capazes de competir com a Família A320neo, garantindo todo o mercado para a Airbus até que a nova aeronave da Boeing estivesse pronta. Financiar uma aeronave nova e uma atualização do B737 ao mesmo tempo também não era uma opção.
Cada fabricante tem o seu próprio jeito de apresentar as melhorias nas aeronaves. A Douglas, por exemplo, utilizava subvariantes para diferenciar melhorias realizadas nos modelos, que geralmente eram aumento no peso máximo de decolagem ou novos motores. O DC-8-12 tinha maior peso máximo de decolagem do que o DC-8-11. A mesma lógica foi usada para o DC-9-32 e DC-9-31 e para o MD-82 e MD-81. A Douglas também usava as subvariantes para diferenciar os modelos de curto/médio alcance dos modelos de longo alcance. Apesar de terem a mesma estrutura básica, o DC-8-11 não era capaz de realizar voos de longa distância. Para isso a Douglas lançou a versão DC-8-31, com motores mais potentes, maior capacidade de combustível e maior peso máximo de decolagem. A mesma lógica foi usada para o DC-10-10 e DC-10-30.
A Boeing também costuma usar subvariantes para melhorias em suas aeronaves. O Boeing 737-700 é uma versão atualizada do Boeing 737-300, com o mesmo comprimento, porém novos motores e asas redesenhadas. O Boeing 747-100 tem o mesmo tamanho do Boeing 747-200, porém a versão 200 possuí motores mais econômicos. O mesmo acontece com o Boeing 747-400, que tem o mesmo tamanho do Boeing 747-300, porém possuí novos motores e outras melhorias como cabine de comando mais moderna e winglets.
Já a Airbus adotou o sufixo "neo" (new engine option) para diferenciar os modelos com uma atualização nos motores, como o A320neo e A330neo. Porém a fabricante faz muitas outras atualizações em suas aeronaves que não são "registradas" em subvariantes, apenas são incorporadas mantendo-se o mesmo nome. Por exemplo a Família A330 passou por algumas modificações ao longo de sua carreira, de forma que um A330-300 fabricado em 1995 e um A330-300 fabricado em 2020 possuem especificações diferentes, apesar de estarem sendo comercializados com o mesmo nome.
Airbus A330-300 | em 1995 | em 2009 | em 2015 | em 2020 |
Peso máximo de decolagem: | 230 ton | 233 ton | 242 ton | 242 ton |
Capacidade de combustível: | 97530 litros | 97530 litros | 97530 litros | 139090 litros |
Alcance: | 10200 km | 10500 km | 11300 km | 11750 km |
No caso do A330-300, o alcance limitado da aeronave se mostrou um dos principais motivos das companhias aéreas não escolherem a aeronave. Com a introdução de melhorias, a Airbus conseguiu aumentar o alcance da aeronave em mais de 1500 km, fazendo com que o A330-300 passasse a realizar rotas mais longas antes inviáveis.
Quais são as melhorias mais comuns?
- Motor: Os motores são uma das partes mais importantes da aeronave. Não é incomum que cerca de um terço da economia de combustível de um novo modelo de aeronave venha apenas do fato dela utilizar novos motores mais modernos e eficientes. Não é à toa que a ideia de pegar uma aeronave já existente e fazer modificações mínimas para adaptá-la para um novo motor é bastante tentadora. Mais uma vez o Boeing 737 é um ótimo exemplo. Quando a aeronave foi atualizada com motores CFM56, foi preciso posicionar o motor mais para frente da asa, além de mover os acessórios do motor para os lados, formando uma entrada de ar "achatada", pois a distância entre a asa do B737 e o solo era muito baixa para que o motor coubesse sem encostar no chão. Mais tarde o 737 precisou de mais modificações, dessa vez para receber os motores Leap-1B. O maior tamanho dos motores, exigiu mudanças no trem de pouso para manter uma distância mínima entre o motor e o solo, além da criação do sistema MCAS, que impede que a aeronave perca sustentação devido ao efeito aerodinâmico dos motores maiores, mais pesados e mais poderosos.
- Peso Máximo de Decolagem: Com a capacidade de decolar com mais peso, a aeronave pode aumentar o seu alcance (levando mais combustível) e reduzir os custos para os seus operadores a medida que pode levar mais passageiros ou carga.
- Wingtips: São dispositivos localizados nas pontas das asas para melhorar a sua eficiência, reduzindo o arrasto. Existem vários tipos e que funcionam de maneiras diferentes, apesar do objetivo ser o mesmo. Alguns dos mais comuns são os Winglets (A330, A340, B737, Boeing 747-400, B757, B767), Wingtip Fence (A300/A310, A320, A380), Raked wingtip (B777, Boeing 747-8, B787), Sharklet (A320neo), Split-tip (B737MAX, MD-11).
- Alcance: Tudo mais constante, quanto maior o peso (mais passageiros ou carga) da aeronave, menos longe ela vai voar. Se a companhia aérea pretende usar a aeronave para voos curtos/médios, geralmente isso não é um problema. Porém para voos longos sem escalas isso é fundamental. Para isso as fabricantes costumam lançar versões com tanques de combustível extra, permitindo que a aeronave possa voar mais longe. Por outro lado, se não houver nenhuma outra modificação além da adição dos tanques, a aeronave terá menos carga útil, pois uma parte do peso disponível será consumida pelo combustível extra. Essas versões de maior alcance costumam ser chamadas de Extended Range (ER) ou Long Range (LR).
- Aumentar o tamanho: Essa sem dúvida é a mais popular de todas. Tem um avião que faz sucesso e que está ficando defasado? Crie uma versão maior para mais passageiros! Essa é a fórmula usada por quase todos os fabricantes de aeronaves comerciais. Ao aumentar a capacidade de passageiros/carga, a aeronave consegue ter um custo por assento menor. Por outro lado, por ser uma aeronave maior, o custo de operação também aumenta. Dessa forma o A321 possuí um custo por assento menor do que o A319, pois tem maior capacidade de assentos e carga. Em um voo em que as duas aeronaves estão lotadas, o A321 será mais lucrativo. Porém se a ocupação não justifica um A321, talvez o A319 seja mais lucrativo, pois tem um custo de operação menor.
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